Sustentabilidade

Fashion for Better

Movimento criado por designer fomenta o consumo consciente
Por Michel Pozzebon - 28-05-2018

Macaque in the trees
Há dez anos, após uma temporada na Europa, Francesca Giobbi decidiu se reinventar. Designer de calçados formada pelo Istituto Europeo di Design (IED), ela lançou a própria marca. Porém, ao apresentar a coleção às amigas, a empreendedora foi desencorajada. “Elas questionaram como eu ia concorrer com dois gigantes: a Itália, centro de luxo, e a China, consagrada pela produção barata”, lembra ela.

No entanto, o que fez com que Francesca revisse a sua trajetória como empreendedora foi o resultado de suas pesquisas em diferentes mercados. Com base nestes levantamentos, ela verificou que grifes com alto valor agregado produzem calçados na Ásia, em condições de trabalho desumanas.

“A bordadeira destas marcas ganhava dois dólares por dia. Quando me deparei com esta situação, percebi que não fazia mais sentido trabalhar na moda. Não fazia mais sentido a competitividade desleal em toda a cadeia produtiva, desde o início da produção, em que mulheres são pagas de forma incorreta, até estilistas que copiam os grandes. Desta forma, eles desvalorizam o trabalho e quando você entra em briga de preço, o mercado vira uma feira de banana”, compara.

E, foi esta “desorganização” no mercado fashion que fez com que Francesca criasse o movimento Fashion For Better (F4B). A proposta da iniciativa é equilibrar o mercado e repensar a forma como os integrantes do setor são tratados e remunerados. “Queremos fomentar o consumo consciente, unindo e desenvolvendo toda a cadeia, desde o artesão, a matéria-prima, o designer, a indústria e o comercial, conectando o produto diretamente ao consumidor. A ideia é assegurar a procedência ética e sustentável dos produtos”, detalha a designer, enfatizando que o projeto visa a minimização dos maiores problemas da indústria da moda: automação, lixo/desperdício e trabalhos informais e escravo. “Validando, assim, o Made in Brazil para o mundo e criando um ciclo virtuoso para a cadeia produtiva da moda.”

Moda como Política Pública no Brasil

Mais que influenciar o comportamento e consciência do consumidor, o F4B tem como desafio provocar mudanças em toda a cadeia. Alterações que vão da produção – com salários justos para os produtores – até a comercialização, etapa em que ainda há lojistas que compram e vendem artigos sem nota fiscal e mercadorias falsificadas ou provenientes de condições análogas ao trabalho escravo.

E, ainda que o movimento seja pequeno, Francesca antecipa que se trata de uma discussão mundial e crescente. “Estamos, paulatinamente, mostrando às indústrias que não existe espaço de crescimento para as organizações que não praticarem uma economia capitalista mais consciente. Contamos com a ajuda de leis de incentivo na Europa e nos Estados Unidos para produtos de origem ética e sustentável, mercados que já compreendem melhor essa necessária realidade. Queremos que a moda seja Política Pública em nosso País, em decorrência do número de pessoas que ela emprega e do peso que ela tem em nossa economia”, enfatiza.

Como funciona o F4B?

À frente do F4B, Francesca presta consultoria para empresas e atua no desenvolvimento de produtos. Como diferencial, dispõe de mão de obra certificada e oportuniza à rede de fornecedores clientes de alto luxo. “Ensinamos como monetizar melhor suas empresas por meio de nossas curadorias de design e canal de venda direta ao cliente. Atuamos fortemente em todas as etapas, desde a escolha de matéria-prima até a entrega do produto ao consumidor final, visando não somente que todos façam o melhor negócio e tenham o melhor faturamento, mas também enxergando ali uma oportunidade real de desenvolver toda uma indústria que se encontra enfraquecida. E fazemos tudo isso de forma transparente e de fácil compreensão ao público”, explica a designer.

Hora de repensar

Francesca enxerga a indústria calçadista brasileira muito bem inserida no contexto do F4B, destacando que o movimento também propõe que os industriais repensem o seu atual modelo de negócio. “O alinhamento de mão de obra qualificada, design, novos materiais e uma curadoria comercial especializada coloca nossos produtos em competição igualitária com os apresentados pelos melhores mercados do mundo. Com o lançamento de nosso e-commerce, queremos ampliar ainda mais estes ganhos da fábrica, ensinando e mostrando aos nossos industriais que políticas éticas e sustentáveis, aliadas a um novo modelo de vendas, podem resultar em algo muito mais lucrativo que as suas práticas atuais”, reitera.

Qualificação e empreendedorismo

O F4B qualifica e formaliza artesãos por meio do empreendedorismo, desenvolvendo parcerias produtivas com fornecedores, fábricas e marcas, gerando design com diferencial competitivo e valor agregado. Desta maneira, o consumidor é reeducado e conectado a uma plataforma omnichannel, disponibilizando produtos de melhor qualidade, melhor custo-benefício e com procedência comprovada pela transparência em toda a cadeia.

Atualmente, o F4B conta com três parceiras com consultoria de branding e 15 marcas com produtos específicos. O movimento também está sendo apresentando em diversas partes do País e no exterior.

Fast fashion

Para a designer, o F4B está em consonância com o fast-fashion, com foco em produtos mais acessíveis ao consumidor final. “Enxergo que muito em breve estaremos nos unindo aos grandes representantes do fast-fashion na busca de uma produção primeiramente mais ética, partindo, por meio da ciência e do uso de materiais mais sustentáveis e ecologicamente corretos, para uma linha de sustentabilidade com custo mais acessível”, pontua.

Novo modelo disruptivo de produção

O Shop4Better.com, novo modelo disruptivo de produção, distribuição e consumo consciente, será apresentado em setembro. O projeto consiste em uma plataforma de venda multicanal de moda e design, curadoria e consultoria de licenciamento.

O ambiente visa a promoção dos produtos desenvolvidos pelo Instituto F4B em parceria com diversas marcas, fortalecendo os ganhos de todos os envolvidos na cadeia e promovendo uma reestruturação de todo o mercado. Promover a produção de co-brandings entre marcas brasileiras e internacionais, fortalecendo o Made in Brazil, também está no escopo do Shop4Better.