Estrela do Fashion Meeting Lançamentos (FML) – 3ª edição, realizado no início de maio, em Novo Hamburgo/RS, Patricia Bonaldi é uma das mais relevantes estilistas da moda nacional. Digital influencer e com trânsito fluido entre as famosas, é reconhecida pelas criações de luxo, com apelo forte em bordados, rendas e detalhes cheios de personalidade.

O handmade é a base e grande diferencial de seu DNA artístico. CEO do Grupo Nohda, que detém as marcas Patricia Bonaldi, PatBO (próprias) e Apartamento 03, ela divide sua rotina profissional entre números, design, gestão de pessoas, viagens de negócios e o universo de ideias que lhe garantem novas perspectivas constantemente.

A seguir, confira um relato, em primeira pessoa, sobre um dia intenso – e atípico – com Patricia, e conheça um pouco mais sobre esta personalidade brilhante, que vem conquistando o mundo.

Entrevistar alguém famoso é como abrir um Kinder Ovo: você nunca sabe o que realmente vai acontecer durante a conversa. E, especialmente, neste caso, estar com Patricia Bonaldi se configurou, para mim, um desafio, pois seria um bate-papo acompanhado, ao vivo, pelas mais de 600 pessoas que dedicaram a tarde de 3 de maio para estar em nosso evento.

Sabendo que a estilista não costuma se expor, com exceção de raras entrevistas e alguns posts em seu perfil pessoal no Instagram (que ela mesma administra), me preparei para encontrar uma mulher de poucas palavras. O cronograma estava organizado a partir do final da manhã – direto do aeroporto, em Porto Alegre, Patricia viria a Novo Hamburgo, para fazer cabelo e maquiagem em um estúdio no Centro da cidade – nosso ponto de encontro.

12h30
Na cadeira da maquiadora, Patricia ainda exibia o cansaço de quem havia enfrentado muitos quilômetros de viagem. O dia começou antes das 7h, no embarque de São Paulo/SP para a Capital gaúcha. No dia anterior, seu expediente havia sido na fábrica da PatBO, em Uberlândia/MG, de onde partiu apenas no fim da noite. “É cansativo, mas quando a gente faz o que ama, tudo compensa”, comentou ela, com uma expressão de certeza e serenidade.

Patricia é dessas pessoas delicadas, que falam sorrindo. E quem não conhece sua trajetória ficaria chocado ao descobrir o quão feroz ela pode ser no empreendedorismo. “Eu sempre fui muito determinada. Quando coloco uma ideia na cabeça e vejo que é possível, vou até o fim. No Brasil, não é fácil vencer em nenhuma profissão. Tem que ser perseverante e corajoso, apesar das dificuldades”, disse ela, sobre suas multifunções.

13h
“Você consegue dormir?”, perguntei, enquanto nos dirigíamos ao ambiente dos hair stylists. Não surpresa, ela riu. “Hoje, consigo descansar algumas horas por noite. Até uns três anos atrás, não conseguia parar de pensar e era bem difícil desligar. São muitas responsabilidades e eu faço questão de estar presente e participar de todos os processos na empresa. Atuo na administração, no marketing, no comercial, visito as lojas, faço pesquisa e também desenho”, listou.

Com o sotaque mineiro de raiz, entregando sua origem e a razão do gosto pelo bordado impecável, Patricia complementou sua explanação revelando, ainda que, trabalha no chão de fábrica. “Não tem glamour, não. Vou de tênis e rabo de cavalo. Você precisa estar realmente à frente do seu negócio para ele dar certo. Eu sei quem são os profissionais que trabalham comigo, porque também faz parte da minha atribuição de líder a gestão, a contratação. Tudo é feito pelas pessoas e sem elas nada seria possível”, pontuou.

13h45
Falávamos sobre tradições e viagens quando uma jovem se aproximou, pedindo uma selfie com a estilista. Prontamente, Patricia sorriu e se posicionou para o clique. A fã agradeceu e avisou que estaria na plateia do Fashion Meeting especialmente para vê-la. Um rápido encontro, no qual percebi a primeira demonstração da timidez que a artista garantia ser um de seus desafios pessoais.

“Eu ainda me espanto um pouco quando as pessoas me reconhecem, me abordam. Porque eu me vejo como uma pessoa tão normal, que trabalha na fábrica. É surpreendente e muito gratificante esse carinho, esse reconhecimento. Fico muito feliz em poder conhecer as pessoas que acompanham meu trabalho e gostam. Procuro dar atenção e retribuir essa energia”, afirmou ela.

Às vésperas de seu aniversário, Patricia garantiu estar à vontade com o avançar do tempo. “Eu adoro fazer aniversário! Nunca programo nada, mas sempre acaba tendo alguma comemoração. É minha data favorita, junto com o Ano-Novo”, declarou, lembrando ter passado a virada para 2018 em Havana, capital de Cuba. “Conheço muitos lugares no mundo, mas este é especial”.

14h15
Patricia Bonaldi nasceu em Ceres/GO, em 8 de maio de 1981, e conta que sua família se mudou para Minas Gerais quando tinha dois meses de vida. “Eu me considero mineira, com orgulho, e hoje moro metade do tempo em Uberlândia, metade em São Paulo. Em Minas, temos a cultura das bordadeiras da família e nós formamos uma excelente equipe. É algo que faz parte da gente, esse cuidado com os detalhes, o feito à mão”, revelou a estilista, que também carrega no estilo de vida hábitos adquiridos na cidade mais populosa do triângulo mineiro (mais de 650 mil habitantes).

“A gente tem costume de colocar queijo em tudo (risos). Eu não estou comendo carne há três meses, mas gostava muito do cupim casquerado.” O tema “comida” dominou a conversa durante o trajeto para o restaurante escolhido para nosso almoço.

14h50
Um prato de tortéi, típica massa italiana recheada com abóbora cabotiá, ao molho sugo, e um suco de laranja, para uma vegetariana recém-adepta. No restaurante italiano, a saladinha que chegou a ser opção, foi deixada para a próxima. “Carboidrato é bem mais difícil de abrir mão. Eu gostaria de ser tão determinada para os exercícios físicos quanto sou nos negócios”, riu.

Durante a refeição, mais histórias destas que a gente poderia passar o dia todo ouvindo, sem cansar. “Uma das minhas primeiras vendas foi quando eu ainda tinha a loja multimarcas, antes de tudo. Eu usava uma camiseta velha e desgastada, que eu amava. Chamava de Gato Rei, porque tinha uma estampa de um rosto de gato na frente, com uma coroa de pedrarias que eu mesma bordei. Uma cliente se encantou e insistiu para comprar. Expliquei que não estava à venda, que era velha, que estava gasta, mas nada adiantou. No fim, fui ao provador, tirei e vendi a camiseta pelo equivalente a uns R$ 1 mil”, detalhou a estilista para uma audiência atenta e animada, aos risos (nos acompanhavam o jornalista Nelson Zimmer, coordenador de Projetos Especiais do Grupo Sinos, e Carol Modolo, assessora de Patricia).

15h10
Nos dez minutos de trajeto até o NH Hall Eventos, para onde nos encaminhamos logo após o almoço, a pauta foi a entrevista no palco. “Ainda fico nervosa falando para o público. Não tenho o hábito de dar entrevistas para a televisão e coisas do tipo. Minha vibe é bem mais focada na empresa. Meu marido é meu sócio, então, o envolvimento é intenso”, contou.

Já no local do evento, Patricia foi logo trocar de roupa, para ficar pronta e aproveitar ao máximo o tempo com as pessoas que a aguardavam para interação no camarim. Isso porque, com os minutos cronometrados, assim que encerrasse sua participação, deveria correr ao aeroporto.

16h16
A repetição de números no relógio não chamou minha atenção, mas a de Patricia, sim. Ela me explicou que, quando vemos este tipo de coincidência, alguma porta se abre, segundo a astrologia. “Nós somos números. O que você é não é você, mas um monte de pequenas partes unidas. Tudo que existe se trata de números”, refletiu.

Entre uma foto e outra com alguns fãs, Patricia se preparava para encarar a platéia e me falar, desta vez publicamente, sobre sua história. Para mim, uma experiência surreal. Para ela, sob meu ponto de vista, um dia de troca, de dedicação, de sucesso, de missão cumprida com carinho e responsabilidade. O palco, na sequência, foi pequeno para tantos feitos da estilista traduzidos em respostas.

Risadas nervosas, aos poucos, deram espaço para a artista e empreendedora Patricia Bonaldi, que nasceu em Goiás, mora em Minas e São Paulo e é uma das mais importantes representantes da moda brasileira. “Eu nasci para isso e vou seguir batalhando para que o trabalho feito à mão e o bordado nunca morram. O grande segredo do sucesso de uma marca é o DNA. Se você mantiver a sua essência, você sempre vai saber o que fazer para continuar no caminho certo”, ensinou.