Moda

"Onde está o futuro?"

Estética controversa vai além do dad sneaker
Por Mary Silva - 26-06-2018

As transformações de consumo e digital que vivemos nos últimos anos vêm provocando mudanças profundas no mercado global de moda. Ganha voz um novo perfil de influenciadores – inseridos em uma geração que valoriza experiências e levanta a bandeira da diversidade.

A ostentação é ato fora de contexto e a sustentabilidade vira pauta prioritária. Em movimentos múltiplos, a inovação parte das ruas, das redes sociais e, por vezes, das mentes criativas que assinam as mais importantes etiquetas do mundo.

Representando esta mistura generalizada, calçados com estética controversa se tornam protagonistas em coleções dos mais variados estilos. Os “feios”, “esquisitos” e “desgastados” são apresentados em grande escala, tendo os tênis como principal referência.

A partir da construção original, o streetwear remonta o clássico, agigantando solados, achatando e recortando cabedais, esticando canos ao extremo e o que mais a imaginação permitir. E vem muito mais por aí.

“É importante compreender que os criativos acompanham a força mercadológica dos jovens. Esta ideia de rebeldia no visual é para mostrar que tem muita coisa errada, muitas questões sociais a serem resolvidas. É uma bagunça organizada”, explica a coordenadora da especialização em Design Estratégico e docente do curso de Design de Moda da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo/RS, Paula Visoná. “É a nova geração de consumo perguntando ‘onde está o futuro que nos prometeram?’”, complementa ela.

Macaque in the trees

Linguagens marginais
Muito antes de chegarem às fashion weeks e feiras calçadistas, os chamados dad sneakers já haviam espalhado suas raízes na cena urbana, segundo Paula Visoná. “Existem movimentos que estão à margem do massivo e têm seu comportamento tratado de forma mais crua pelos criativos que estão próximos. Neste sentido, há a expressão de uma linguagem que busca por representação e acaba chamando a atenção do mainstream”, diz.

Quando estes conceitos são apresentados ao público, geram-se novas propostas, mais palatáveis mercadologicamente. “Isso existe na moda desde os anos 1920, com as subculturas do movimento urbano, que precederam o fenômeno das tribos. Hoje é muito diferente de épocas como os anos 1970 e 1980, por exemplo. Não há mais grupos demarcados. Temos algo bem mais efêmero”, pontua a especialista. Ela chama a atenção para o fato de que, se antes a roupa definia a personalidade de alguém, hoje o visual passa a ser visto de forma ainda mais abrangente.

Ponto de vista comercial
Não é por acaso que os tênis puxam a frente de todo este discurso. Para a docente, o calçado é um ícone pela sua importância através do tempo e dos espaços em que circula.

“Eles permitem várias sobreposições de linguagens, pois estão em diferentes contextos e são portadores de mensagens. Hoje a mensagem é que está tudo muito confuso, com grandes modificações culturais. Os movimentos estão se misturando e os tênis nos mostram isso”, afirma.

Em busca de originalidade, cada marca lança suas leituras, incrementando o leque de opções incomuns que fazem a felicidade da tribo mais democrática do mundo: os seguidores.