Comportamento

O caos do lixo e resíduos industriais

Meio ambiente sofre consequências do consumo desenfreado
Por Da redação - 19-07-2018

Com 1,6 milhão de metros quadrados de detritos e 79 mil toneladas de plástico, a grande mancha de lixo do que se formou no Oceano Pacífico tem tamanho equivalente a duas vezes a área da França. O cheiro do plástico, quando colonizado por bactérias e algas no mar, leva os peixes a confundi-los com alimento e a ingeri-los, introduzindo-os na cadeia alimentar.

A constatação é de estudo da Universidade da Califórnia e do Aquário da Baía de São Francisco, nos Estados Unidos. A ingestão de plásticos pode ser fatal e levar a um acúmulo de substâncias tóxicas ao longo da cadeia alimentar, quando os predadores se nutrem de presas que ingeriram plásticos. E nós estamos no final desta cadeia. O que assusta é que não só os peixes, mas também o sal já apresenta resíduos de plástico.

Plástico: o grande vilão 
O uso maciço de plásticos é tamanho que os oceanos abrigarão mais detritos plásticos do que peixes em 2050, de acordo com informações do Fórum Econômico Mundial de Davos.
Mas o plástico nos oceanos é apenas uma parte do preocupante cenário.

A indústria de vestuário, que gera 53 milhões de toneladas de resíduos de aterros por ano (73% da moda consumida termina a sua vida no aterro), é uma das maiores poluidoras do mundo. Além disto, a indústria da moda utiliza-se de energia não renovável, consumo de água altíssimo, produz lixo tóxico, microfibras poluidoras e faz grandes emissões de carbono no ambiente.

Como a população global aumentará 16% até 2030, haverá pessoas que precisarão se vestir e calçar. Ou seja, o que será feito em prol de uma sustentabilidade mais significativa?

Venda de artigos de segunda mão
Dicas de sites para acompanhar

Usar o usado, ou não usar? Algumas pessoas ainda estão relutantes em comprar peças de segunda mão, principalmente sapatos, mas a proliferação de sites oferecendo produtos usados indica uma mania em ascensão. É também um sinal de que os consumidores estão considerando as compras como um investimento, um capital para gerar lucro.

Neste caminho, sites como o Instantluxe.com, um dos pioneiros em artigos de couro e relojoaria de segunda mão, e o Vestiaire Collective, confirmam que cada vez mais os usuários têm em mente o valor do que adquirem. Principalmente produtos de grife e marcas de luxo são comprados e depois revendidos muitas vezes após três meses de uso.

Além disto, mercados emergentes costumam consumir os produtos de mercados que já não os classificam como importantes. Por exemplo, na França um produto pode não estar mais interessando aos consumidores, mas o Brasil pode consumi-lo num segundo momento. Essa prática se chama curva de conveniência.

Quem sempre andou na contramão dos sites que não vendem muito os calçados usados foi o StockX, plataforma originalmente dedicada só a comercializar tênis de segunda mão, mas que expandiu seus produtos para comercializar streetwear também. O carro-chefe são os tênis em edição limitada de grandes marcas, co-assinados por etiquetas de luxo.

Outra geração
As formas tradicionais do sistema de consumo estão em xeque. Especialistas indicam que a geração Z (nascida com o novo milênio) tem um instinto para a propriedade menos desenvolvido do que as gerações anteriores, embora a sua consciência ambiental precise ser mais desenvolvida.

Mas o que mais a distingue é que, para ela, o digital é mais real que a realidade. Muito mais racional, pensa no uso, por isso interessa-se mais pela economia circular ou colaborativa.

Nos Estados Unidos, o site Rent the Runway oferece para aluguel roupas de grife por um período de quatro ou oito dias por apenas 10% do preço de varejo delas, por meio de sua plataforma chamada RTR Reserve. Dispõe de um pacote pré-pago e pré-endereçado para devolver o item e uma taxa de seguro de US$ 5 para proteção contra acidentes.

Os preços de aluguel incluem a limpeza a seco e o cuidado das peças de vestuário. Mas o serviço só cresceu mesmo a partir de 2016, quando a empresa lançou o Unlimited, a primeira assinatura da moda que dá às mulheres acesso a roupas e acessórios de grife por uma taxa mensal fixa de US$ 159, incluindo transporte, limpeza a seco e seguro.

Em 2017, a Rent the Runway anunciou uma nova assinatura com preços ainda mais baixos, chamada RTR Update. Os clientes selecionam quatro peças e as mantêm por um mês. No final dos 30 dias, os assinantes podem selecionar quatro novos itens e retornar os anteriores por correio. A assinatura custa US$ 89 por mês com frete, limpeza a seco e seguro incluídos.

Hoje, o Rent the Runway tem mais de 6 milhões de assinantes e cerca de 3,2 mil peças são lavadas por hora. Seus fundadores, vindos da Harvard Business School, procuraram uma alternativa ao fast fashion e acabaram por se tornar a empresa americana mais lucrativa do ramo.

Instagram
Um dos fatores que mais impulsionaram o crescimento deste modelo de negócio foi o avanço do Instagram. Para a maioria dos usuários, é fundamental fotografar um look por semana (atualmente, o ideal é um por dia ou mais), como forma de realização pessoal, ou até mesmo para parecer rico, especialmente se o usuário não é.

Aliás, esta atividade no Instagram tem alimentado muitos destes sites de aluguel e venda de produtos usados, muito mais do que a consciência ambiental. No Brasil se dá o mesmo, e muitas empresas nestes moldes têm crescido, impulsionadas pelas redes sociais.

Este modelo americano tornou-se mais difícil de ser aplicado em outros países como a França, onde a sustentabilidade tem mais valor que a aparência, ou o greeenwashing. Lá, o L´Habibliotheque e o Panoply tentam enveredar por este modelo de negócio, mas culturalmente os americanos têm o hábito de descartar os produtos com mais facilidade, enquanto na Europa as pessoas não vivem com esta insatisfação constante.

Outro modelo de negócios gerado pela falta de espaço de armazenamento nos closets nas grandes cidades são as empresas que terceirizam o guarda-roupa e a guarda de muitos outros itens, ou seja, armazenam as peças que não são usadas com tanta frequência. A vantagem é que tudo isso também pode ser alugado para outros usuários, gerando renda extra e fazendo o cotidiano muito mais simples. Parece que o modelo da circularidade dos itens de segunda mão veio para ficar e começa, aos poucos, a transformar o ciclo da moda.